domingo, 12 de setembro de 2010

Antígona

ANTÍGONA

Sófocles; 496 a.C. – 406 a.C. Antígona / Sófocles; tradução de Donaldo Schüler. – Porto Alegre: L&PM, 2010.                                                                    

Resenhado por Andreza Pereira de Medeiros acadêmica do 2º período de Direito do Centro Universitário Moacyr Sreder Bastos para a disciplina de Teoria Geral do Estado ministrada pela professora Flâmer Távora.
Antígona é uma tragédia grega em formato de peça, que fora escrita por Sófocles, um dos maiores intelectuais da Grécia antiga.

Seu prólogo inicia-se com a conversa entre Antígona e sua irmã Ismene. Para a qual ela revela o desejo de enterrar seu irmão Polinice, mesmo contra a vontade do tirano Creonte, seu tio. Este glorifica Etéocles - também irmão de Antígona - dando lhe um enterro, baseado no direito de Tebas e com sepultura digna de quem desce ao mundo dos mortos, pois havia perdido sua vida lutando pela cidade; e cobre de infâmia Polinice, que teria tentado dar um golpe e atacado a pátria, e, assim, seu corpo não deveria receber qualquer ritual fúnebre, devendo ser abandonado sem lágrimas e exposto as aves e cães. Os irmãos referidos acima morrem numa luta de golpes recíprocos onde estava a disputa pelo poder da cidade de Tebas, agora assumida por Creonte, parente mais próximo e irmão de sua mãe Jocasta, e que ainda havia matado o pai deles, Édipo.

Ismene decide não participar dos rituais fúnebres em respeito à força da lei e obedecer à decisão do tirano. Ela acredita que as mulheres não podem lutar contra os homens que a governam, sendo seu pensamento bem diferente de Antígona, que lhe imputará o ódio, e que pouco se importará em morrer por uma sentença de apedrejamento a quem dê um enterro digno ao infame. Antígona infringe a determinação do tirano, porque sente-se obrigada a fazer o certo, a seguir o que seu nervo moral pede.

O primeiro episódio de Antígona se desenvolve com a conversa de Creonte, Corifeu e um dos guardas responsáveis pelo cumprimento do decreto, no qual dá a ordem de deixar o corpo insepulto e entregue as aves e cães, servindo de espetáculo para os olhos da cidade. Porém, o corpo é sepultado na calada da noite e nenhum dos guardas sabe dizer quem teria descumprido a ordem de Creonte. Um dos guardas foi o escolhido a contar tudo a Creonte, que lhe acusa de ter sido subornado para permitir o ocorrido e ordena que encontre quem tenha desobedecido às suas ordens sob pena de desgraça.

Em seu segundo episódio, o guarda irá descobrir que foi Antígona quem cometeu a loucura de desrespeitar as leis do soberano. Assim, retornará ao palácio, mesmo após ter jurado nunca mais por os pés lá, devido as ameaças de Creonte. Levando então consigo, Antígona, que confessará que fora ela mesmo.

Neste instante, eles começam a travar um duelo de concepções de vida, crenças e ideais, onde direito natural e direito dos homens é posto a prova. Antígona, já tendo assumido a autoria, sustenta em sua defesa o cumprimento da lei dos deuses, dizendo que não foi Zeus quem ordenou o que Creonte estabelecia no decreto, e que as leis dos deuses seriam mais antigas e sempre vivas, sendo desta forma, superiores as leis terrenas, e que quem morreu não fora um escravo, mas sim um irmão e que a lei dos mortos deve ser igual para todos. Fica claro que Antígona invoca as leis não escritas, aquelas que todos conhecem, e que obrigam a honrar pai e mãe, a não fazer o mal aos outros, a ter compaixão pelo fraco, concepções básicas da vida. Do outro lado, o tirano inclina-se no sentido de que ela procedeu de maneira errada e não de acordo com os seus motivos e crenças, e que Polinice atacou a pátria, enquanto Etéocles a defendia. Que um ser mau não deveria ter direito igual ao de um ser justo, e neste instante, ele manda chamar Ismene, que confessa que era cúmplice de um crime que não cometeu, e nem com isto, recebe a admiração da irmã, que revela que nada tramou com ela. Creonte as chama de loucas e condena as duas a morte, mesmo Antígona sendo noiva de seu filho Hemon.

Continuando, e em seu terceiro episódio, Creonte e seu filho Hemon dialogam, e o futuro marido de Antígona demonstra respeito às ordens do Pai, não obstante, argumenta no sentido de defender Antígona, dando sinais de que o decreto esta sendo contestado pelo povo da cidade de Tebas, que lamentam a sorte da jovem, e que toda cidade estaria de acordo com o ato nobre que ela praticou, mesmo em desacordo de uma ordem daquele que acredita ser o único a poder ordenar e governar aquela cidade (demonstra que tudo seria diferente caso ouvisse a voz do povo).

A discussão chega a um ponto de Hemon ameaçar a se matar (ela morrerá e ao morrer matará outro) caso o pai não revogasse a condenação, mas ele entende que Hemon o ameaçava e com isto torna a pena de Antígona ainda mais severa, aprisionando-a em uma caverna escavada em uma rocha, só com alimento indispensável, para que tenha um fim cruel.

Em seguida, e em seu quarto episódio, Antígona mostrará suas lamentações, que se deduz que ela estaria tentando insuflar o povo a se revoltar contra o governo de um só homem, o tirano Creonte, e talvez aumentasse com isto, o coro de desaprovação para com o governo do tirano.

Por fim, entra em cena Tirésias, adivinho conhecido e respeitado por todos, e que irá advertir Creonte do mal que irá se abater em sua vida devido à sua teimosia, e que os deuses estão enfurecidos. Creonte se mantém irredutível, porém, após a partida de Tirésias é convencido por Corifeu a libertar Antígona e sepultar Polinice.

E no êxodo, a peça é fechada tragicamente com diversas mortes, o que é típico da obra de Sófocles. O Soberano terá que viver com o peso da morte de seu filho, de sua esposa e da sobrinha Antígona por não ter dados ouvidos ao Povo de Tebas e não se curvar diante do bom senso.

Desta forma, uma leitura da obra que se relaciona a teoria geral do Estado e ao Direito, esta centrada no direito natural versus direito dos homens, ou melhor, entre justiça e lei, sendo que Antígona a todo custo tenta defender a primeira opção, pois acredita que certos valores (como o de enterrar um familiar) estão acima de qualquer direito criado pelos governantes, que acreditavam ter um poder supremo, e que estaria acima de tudo, até mesmo podendo decidir sobre a vida de alguém. Por isto, caso ela morresse, estaria cumprindo aquilo prescrito pelos deuses. Entretanto, a cidade, mesmo em desacordo com o tirano, continuava obedecendo as suas ordens devido ao temor das sanções, que eram terríveis e impostas por aquele que representava o Estado, pois neste regime não havia a divisão dos poderes, e um só homem, julgava, condenava, mandava executar e legislava em seu favor.

Portanto, Creonte fora alertado por seu filho Hemon sobre como o povo reagiu a condenação de Antígona. Não lhe deu atenção, e com isso não conseguiu evitar a tragédia Grega narrada. A mensagem que fica da leitura é que a democracia poderia ser a grande vencedora em Antígona, e que tanta desgraça não viria a ocorrer caso o tirano ouvisse o povo de Tebas, pois o governante que despreza as opiniões do povo põe em risco a cidade e a si próprio.

11 comentários:

Anônimo disse...

Sempre me encontro nos seus posts.Será que é por que sou advogada?

Gêsa Karla disse...

Essa contradição entre a leis dos homens e a lei de Deus de fato já casou muitas batalhas.

Andre Mansim disse...

Os gregos não entendiam muito Deus, pois os deuses deles tinham até atitudes mesquinhas, hahahaha.
Muito bom post.

susana martins disse...

tentei te seguir e não achei a opção!!! bjo

Anônimo disse...

Repassando o conhecimento e a cultura da humanidade.

Cammy disse...

Oii Rodrigo!!
Quanto tempo!!
Vim ver como anda o seu blog!:)
Faz muito tempo que nao publico nada...mas nao parei o blog! rs...
Um bjao!
Se cuida!

May Galdino disse...

Puxa...Vc nem imagina mas,eu fiz um trabalho sobre a Grécia essa semana!
Pq eu não lí isso antes?
kkkkkkk
bjO

PerpLife - PerLusion disse...

Democracia... nem sempre satisfaz o povo. Acho que nada satisfaz o povo de uma nação, sempre haverá revoltados.
Quanto ao texto, vemos que podemos interpretá-lo de vários modos. Advogados...
perplife.blogspot.com

Érico Pena disse...

Um das coisas que aprendi com a filosofia é que existe a verdade aparente e a verdade como realmente é! não comento mais pq como disee o sabio Sócrates: Só sei que nada sei hehehe....

Wil disse...

No mínimo é polêmico o assunto.
Prefiro me abster.

Renato Brandão disse...

Lei dos Homens, Leis de Deus..
Bastante controverso, não?

Caramba, o texto é muito bom!

Mudando de asunto, no início deste ano, eu pensei em enviar um conto para um livro que estava sendo preparado, Território V.

O livro foi um sucesso, mas, infelizmente, não consegui terminar o pretendido conto a tempo; afinal de contas, quando se trata de literatura, e partindo "do nada", prazos são complicadíssimos de se cumprir.

Porém, decidi tirar esse conto da gaveta e publicá-lo em um blog que tenho e estava inativo (http://ascronicasnoturnas.blogspot.com/), para
que alguns amigos possam ler e opinar.

O dividirei em partes e as publicarei todos os domingos, pois o conto original tem 10 páginas e isso é muito para se ler no pc de uma tacada
só.

Gostaria que todos, quando possível, se dispusessem a ler, quando sobrar tempo ou faltar inspiração, e opinassem, criticassem, sei lá.

De outra maneira, nunca saberei se possuo o que é necessário para me dedicar a uma "carreira" literária e, afinal de contas, preciso começar
por algum lugar!

Abraços e obrigadíssimo pela atenção.
http://ascronicasnoturnas.blogspot.com/